segunda-feira, agosto 29, 2005

Correio dos Leitores

Recebemos uma interessante carta de uma das nossas leitoras/comentadoras mais assíduas, da qual passamos a publicar alguns trechos:

"(...) Estou muito satisfeita por ter encontrado este espaço para desenvolver as minhas perspectivas sociológicas sobre a sociedade portuguesa e por ter interlocutores à altura. (...) A razão de ser desta carta está ligada ao aparecimento de dois novos reality shows nos canais de televisão nacionais: "Esquadrão G" e "Senhora Dona Lady". (...) Gostaria de perguntar aos vossos especialistas se estes programas têm, como os outros já comentados neste espaço, a ver com a compulsão dos portugueses para o voyeurismo e para meter o nariz na vida dos outros ou se, pelo contrário, se tratam de manifestações do crescente fenómeno de esteticização do quotidiano e de afirmação do pluralismo identitário e sexual das sociedades hodiernas. (...) Espero obter algumas opiniões acerca deste assunto e continuar a colaborar convosco.
Beijinhos,
Goretti, cabeleireira e presidente da APCCS (Associação Portuguesa das Cabeleireiras Cientistas Sociais)"
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Aceitam-se sugestões de resposta a esta interessante questão da nossa cara amiga. Não vale publicar a opinião primeiro no JN.

2 Comments:

At terça-feira, setembro 06, 2005 1:16:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Atento ao debate aqui presente sobre a adequação discursiva aos contextos e aos veículos de informação no campo sociológico, sinto-me motivado a participar.
Num momento em que a Sociologia nem sempre tem merecido a auscultação devida sobre muitos problemas sociais (substituída por discursos mais “populares” e “basistas”), urge encontrar as razões de tal “desprezo” algumas vezes gritante. Embora a tendência pareça inverter-se, a verdade é que nem sempre é pacífico (nos veículos de informação não especializados) um certo modelo de hibridez cognitiva, assente numa conceptualização elaborada que parece pouco preocupada em se fazer compreender quando se encontra perante veículos “generalistas” e “light”. De facto, a densidade conceptual de uma análise não se revela numa coluna generalista de jornal ou em citações avulsas, a não ser que haja necessidade de afirmar o que mais ninguém vê. Há outros locais e outros meios para o efeito.
Não deixa, no entanto, de ser um debate interessante: “Vale a pena legitimar “análises” sociais com um vocabulário menos denso teoricamente, tendo em conta o público-alvo, pretensamente menos munido?”. Eu até acho que não e tenho todas as reservas quanto à utilidade sociológica de tais análises. Mas, como também acho que a alternativa é muitas vezes pior… Valerá a pena assumir, ao invés, uma descolagem “provisória” e contextualizada das conceptualizações híbridas e do fechamento do campo, que muitas vezes aparenta esconder “elitismos ideológicos”? Penso que Braudel explica isto melhor do que eu.
De facto, em cada momento há um dilema: quando se aprofunda o discurso e a análise menos entendem o raciocínio (quando o há…); quando se aligeira a linguagem em função das características sociais do público-alvo (não só do jornal, mas do tema), desiludem-se as elites. Eu também prefiro a primeira. Mas a tentação de não ser um maçador enciclopedista a falar aos “peixinhos” também não é desprezível.
De facto, é híbrido o meio-caminho entre a “humildade intelectual” e o “pretensiosismo conceptual” que, muitas vezes, tentando fechar o campo, disfarça fragilidades empíricas e incapacidade compreensiva. Quem não se faz entender, dificilmente se entende a si próprio. E quem não ousa adequar um pouco o seu discurso ao público-alvo, promove uns bacocos “etnocentrismos cientifistas”. Mais uma vez, acho que o Braudel e o Popper explicariam isto melhor do que eu. Aliás, quem lê exames, sabe bem que, em muitos casos, os reis andam nus.
Muitas ciências sociais têm resistido pouco à tentação de se tornarem “mediáticas”. É mau. Mas também me parece que quando resistem, tendem a exagerar no fechamento em “arquipélagos” do saber. Repito: não ouso pensar em encontrar numa coluna de jornal (com citações avulsas e muitas vezes “ajustadas” à estruturação da peça jornalística) o âmago da análise sociológica. Essa pretensão poderia esbarrar com o raciocínio indecifrável que, como tal, se subverteria.
É um debate interessante, ainda mais “dentro” do campo sociológico. Eu tenho suficiente motivação epistemológica e ontológica para me disponibilizar para participar numa tal sessão de debate, repito, aberto ao campo e onde estas questões sejam problematizadas (sim, problematizadas, porque não ouso pensar que alguém já tenha descoberto as verdades absolutas…). De desafios também se faz o processo de discussão sobre a ciência.
Os meus cumprimentos (ou será melhor dizer: as minhas manifestações socialmente aceites de uma relação social assente no respeito pelas regras sociais vigentes, traduzidas em símbolos e práticas com conotações e denotações dominantes!!). Seja como for, os meus cumprimentos.
Eduardo Rodrigues

 
At terça-feira, setembro 06, 2005 1:17:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Atento ao debate aqui presente sobre a adequação discursiva aos contextos e aos veículos de informação no campo sociológico, sinto-me motivado a participar.
Num momento em que a Sociologia nem sempre tem merecido a auscultação devida sobre muitos problemas sociais (substituída por discursos mais “populares” e “basistas”), urge encontrar as razões de tal “desprezo” algumas vezes gritante. Embora a tendência pareça inverter-se, a verdade é que nem sempre é pacífico (nos veículos de informação não especializados) um certo modelo de hibridez cognitiva, assente numa conceptualização elaborada que parece pouco preocupada em se fazer compreender quando se encontra perante veículos “generalistas” e “light”. De facto, a densidade conceptual de uma análise não se revela numa coluna generalista de jornal ou em citações avulsas, a não ser que haja necessidade de afirmar o que mais ninguém vê. Há outros locais e outros meios para o efeito.
Não deixa, no entanto, de ser um debate interessante: “Vale a pena legitimar “análises” sociais com um vocabulário menos denso teoricamente, tendo em conta o público-alvo, pretensamente menos munido?”. Eu até acho que não e tenho todas as reservas quanto à utilidade sociológica de tais análises. Mas, como também acho que a alternativa é muitas vezes pior… Valerá a pena assumir, ao invés, uma descolagem “provisória” e contextualizada das conceptualizações híbridas e do fechamento do campo, que muitas vezes aparenta esconder “elitismos ideológicos”? Penso que Braudel explica isto melhor do que eu.
De facto, em cada momento há um dilema: quando se aprofunda o discurso e a análise menos entendem o raciocínio (quando o há…); quando se aligeira a linguagem em função das características sociais do público-alvo (não só do jornal, mas do tema), desiludem-se as elites. Eu também prefiro a primeira. Mas a tentação de não ser um maçador enciclopedista a falar aos “peixinhos” também não é desprezível.
De facto, é híbrido o meio-caminho entre a “humildade intelectual” e o “pretensiosismo conceptual” que, muitas vezes, tentando fechar o campo, disfarça fragilidades empíricas e incapacidade compreensiva. Quem não se faz entender, dificilmente se entende a si próprio. E quem não ousa adequar um pouco o seu discurso ao público-alvo, promove uns bacocos “etnocentrismos cientifistas”. Mais uma vez, acho que o Braudel e o Popper explicariam isto melhor do que eu. Aliás, quem lê exames, sabe bem que, em muitos casos, os reis andam nus.
Muitas ciências sociais têm resistido pouco à tentação de se tornarem “mediáticas”. É mau. Mas também me parece que quando resistem, tendem a exagerar no fechamento em “arquipélagos” do saber. Repito: não ouso pensar em encontrar numa coluna de jornal (com citações avulsas e muitas vezes “ajustadas” à estruturação da peça jornalística) o âmago da análise sociológica. Essa pretensão poderia esbarrar com o raciocínio indecifrável que, como tal, se subverteria.
É um debate interessante, ainda mais “dentro” do campo sociológico. Eu tenho suficiente motivação epistemológica e ontológica para me disponibilizar para participar numa tal sessão de debate, repito, aberto ao campo e onde estas questões sejam problematizadas (sim, problematizadas, porque não ouso pensar que alguém já tenha descoberto as verdades absolutas…). De desafios também se faz o processo de discussão sobre a ciência.
Os meus cumprimentos (ou será melhor dizer: as minhas manifestações socialmente aceites de uma relação social assente no respeito pelas regras sociais vigentes, traduzidas em símbolos e práticas com conotações e denotações dominantes!!). Seja como for, os meus cumprimentos.
Eduardo Rodrigues

 

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