quarta-feira, dezembro 01, 2004

Temas da actualidade

Gostaria de divulgar um texto que é da autoria do José Carlos de Carvalho, Licenciado em Sociologia pela Universidade Autónoma de Lisboa "Luís de Camões" mas que se enquadra nas preocupações actuais da sociedade em geral e como tal objecto de vários estudos. Verifiquei que muitos Sociólogos nacionais e estrangeiros publicam na Web os seus trabalhos e opiniões, para nós estudantes é bom termos a possibilidade de aceder tão fácilmente a estas matérias.

Globalização: Breves Notas

Globalização. Muitas são as reacções a este fenómeno. Existem teóricos, das mais variadas vertentes socio-políticas, que a condenam, interpretando-a como um neo-liberalismo que põe em causa as bases democráticas; tal como existem aqueles defendem-na como factor de desenvolvimento mundial; Por outro lado, existem os que ao apontarem efeitos nefastos, conseguem discernir atenuantes, e pontos considerados positivos nesta temática.

Qual das posições será legítima? E afinal, qual o significado deste termo, actualmente tão em voga?

Na realidade, encontramos um sem-número de definições para "Globalização", e cada uma delas é determinada por um conjunto de factores inerentes a uma multiplicidade de interesses socio-económicos e aprendizagens académicas ou de senso-comum. Se esta é facilmente visivel no plano económico, tem contudo sérias repercussões em qualquer interacção social. A cultura, política, religião, família, trabalho, e outras dimensões societais, são igualmente abrangidas pela globalização.

As empresas nacionais, reúnem esforços com o intuito de se adaptarem à nova realidade mundial, recorrendo a métodos crescentemente apurados de administração, controlo eficaz do capital financeiro, inovação tecnológica, baixos custos de produção, e mão-de-obra altamente qualificada - requisitos que nem sempre possuem. A competição inter-empresarial tornou-se uma questão de sobrevivência. Como o poder das empresas (no domínio de tecnologias de ponta, de capital financeiro, de mercados, de distribuição, etc.) é desigual, logo a globalização beneficia as grandes corporações, operando-se uma concentração de capitais cada vez maior, e uma internacionalização do capital, forçando as economias dependentes a uma inserção no mercado internacional, o que acentua a exclusão social e crescimento da apropriação de riquezas do Sul pelos países do Norte (que usufruem de condições favoráveis ao seu crescimento). Como exemplo, algumas das novas tecnologias têm vindo a permitir a substituição de matérias-primas, enfraquecendo a posição internacional de países cuja economia se centra nas exportações. Os países mais pobres, perdem com a desvalorização das matérias primas que exportam e com o seu atraso tecnológico.

O mercado financeiro, com as corporações é, cada vez mais, aquele que decide sobre os destinos do câmbio, das taxas de juros, da poupança, e dos investimentos, abafando competências que, teoricamente, seriam do pelouro dos governos. Este neo-liberalismo, restringe o papel do Estado na garantia dos direitos dos cidadãos, transformando-os em consumidores numa cultura padronizada de valores difundidos, principalmente, pelos meios de comunicação, e pela educação e políticas culturais oficiais. Esta situação coloca em causa a Democracia, já que os cidadãos perdem influência em detrimento dos grandes grupos económicos.

O poder das multinacionais tem promovido a concorrência entre os Estados. A globalização financeira limita a capacidade dos Estados de procederem a políticas expansionistas, sob o risco de serem submetidos à exclusão do mercado mundial de capitais. Os grandes processos decisórios, são influenciados pelas grandes potências, tornando os países pobres ainda mais pobres, sem verem as suas reivindicações atendidas.

A humanidade assiste a uma nova revolução tecnológica, com um aumento de produtividade que, todavia, rejeita grande parte da mão-de-obra. A classe trabalhadora é progressivamente debilitada devido ao desemprego resultante do maciço investimento tecnológico. Isto gera insegurança colectiva, assistindo-se inclusivamente ao reacender de nacionalismos.

A perda de um emprego acarreta uma desinserção social, e os subsídios estatais não resolvem os problemas da pobreza de longa duração. Assistimos ao crescimento da pobreza e das desigualdades.

A globalização da informação é referida nos meios de comunicação, com particular incidindo as atenções para a Internet. Esta conecta pessoas de vários pontos do globo e, porém, nem todos têm acesso a esta, e menos ainda a uma instrução escolar que possibilite comunicar por escrita, ou conhecer outros idiomas que não o do país de origem.

É, frequentemente, ao serviço do interesse de elites, que estes meios de comunicação operam, já que divulgam as modas impostas pelas multinacionais, padronizando valores culturais e incentivando comportamentos de consumo.

Este consumismo, na opinião de alguns teóricos, conduz ao crescimento do individualismo, já que o indivíduo sente a necessidade de consumir, de ter o que os outros têm e, mais do que isso, adquirir uma maior quantidade de bens em relação aos outros actores sociais.

Mesmo as instâncias tradicionalmente centrais no processo educativo, como a família e a escola, perdem influência quando confrontadas com os media.

As culturas tradicionais correm o risco de desaparecer, em detrimento da cultura dos países economicamente dominantes. A divulgação cultural baseia-se no lucro e vincula-se à imposição de modelos pelas grandes indústrias. Cabe aos responsáveis pelas instituições culturais, imporem-se à corrente, incentivando e garantindo a difusão da diversidade cultural, lutando contra a padronização.

Em resumo: a globalização é um fenómeno extenso e um mecanismo solidificado que apresenta inúmeras respostas a dificuldades com as quais as sociedades sempre se confrontaram, mas acarretando um acréscimo de problemas a todos os níveis da existência humana.








1 Comments:

At quinta-feira, dezembro 02, 2004 2:47:00 da tarde, Blogger MB said...

Bem Vindo e esperamos por mais colaborações da tua parte

saudações sociológicas

p´lo ges-flup, magno bettencourt

 

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