segunda-feira, dezembro 13, 2004

Humildade intelectual precisa-se?

Há alguns dias, numa workshop sobre o que significa, afinal, ler Bourdieu, Patrick Champagne fez questão de realçar a "poluição" que caracteriza frequentemente o debate intelectual e a produção teórico-sociológica, aproveitando para lembrar a importância de submeter a constante crítica as nossas próprias contribuições para esse debate e essa produção. Muitas vezes, temos tendência para nos pormos "em bicos de pés", para sobrevalorizarmos as nossas opiniões - a visão "certa" do mundo, de certeza absoluta! -, esquecendo que, como dizem os outros, "we're standing on the shoulder of giants". As críticas a que são submetidos os trabalhos desses "gigantes" nem sempre são honestas e coerentes e, não raras vezes, não passam de jogadas nas "insustentavelmente leves" estratégias que os dominados colocam em jogo no seu processo de luta pela aquisição de um estatuto dominante no campo intelectual e/ou académico.
Erguemo-nos sobre os ombros de gigantes e nem sequer olhamos para baixo... na verdade, é mais reconfortante constinuarmos a pensar que os gigantes somos nós! A sociologia não é imune às dinâmicas da sociedade como um todo e o que é facto é que há quem pareça não caminhar, mas sim flutuar a alguns centímetros do chão...
A verdade é que se, porventura, dizemos coisas melhores, fazemos coisas melhores, isso deve-se essencialmente aos gigantes sobre os quais nos erguemos. Esquecer esse facto significa atirar fora todo um património histórico e teórico sem o qual o nosso trabalho seria muito difícil e sem o qual o conhecimento da realidade estaria num patamar inevitavelmente insípido.
Humildade intelectual precisa-se?