Folgo em saber que a carta que recebemos da nossa colaboradora Goretti foi capaz de motivar a discussão em torno do tema da "adequação discursiva aos contextos e aos veículos de informação no campo sociológico", para recorrer às palavras do nosso provedor que, de resto, soube estar mais do que à altura das questões da nossa amiga cabeleireira. Pessoalmente, penso que o socólogo deve mandar-se para a frente em todas as vertentes da esfera pública e mediática. Uma espécie de artista de variedades, a que chamei o Serafim Sociólogo, artista da rádio, tv, disco e da cassete pirata. Pode parecer que estou a ser cínico, mas falo muito seriamente. Com a falta de empregos que anda para aí, temos de nos lançar e tomar de assalto todas as posições que tenham minimamente a ver com a exposição pública e mediática, de maneira a afirmarmos a nossa categoria sócio-profissional como verdadeiros detentores da verdade - passe a redundância -, que é o que somos. Uma nova classe social a acrescentar ao esquema teórico marxiano: os detentores dos meios de produção, os que não detêm os meios de produção e os sociólogos, que detêm a verdade. Eu ouso pensar assim. Acabou essa estupidez de termos a mania de falar para intelectuais, a mania de pregar aos convertidos. Eu quero é rumar à dominação mundial. Esse é que é o perfil do sociólogo orientado para a mudança social. Dominar o mundo! Essa é que é essa... Enquanto isso não é possível, vamos tomando de assalto as posições sociais dominantes, pelo menos em termos simbólico-ideológicos.
Confesso que não percebi metade do que o nosso caro Eduardo Vítor disse: não faço parte da elite sociológica e há gente mais consciente do que eu para falar de "arquipélagos" e coisas do tipo (MB, ajuda-me). Acho é que temos de falar para as massas, dizer o que eles querem ouvir e comer-lhes as papas na cabeça. Em Itália não era a República dos Juízes? Pois eu proponho para Portugal a República dos Sociólogos. Aproveito para citar alguns autores que considero importantes: Braudel, Popper, Bourdieu, Giddens, Beck e Lash, Luhmann e Habermas, Boaventura de Sousa Santos, Firmino da Costa, Machado Pais, Loïc Wacquant, Neil Smith, Cantinflas, argumentista dos Malucos do Riso, Batatinha. Citei-os apenas para que este artigo tivesse maior legitimidade sociológica, claro (neste momento é o artigo deste blog com mais autores citados...). De qualquer forma, devo dizer que adorei a definição sociológica de cumprimento e adorei ver que os sociólogos afinal até têm uma capacidade de encaixe boa e sabem brincar como os restantes mortais. Só penso que continuamos a cair numa tremenda confusão: por dizermos por palavras caras uma coisa de senso comum, não quer dizer que deixamos de recorrer ao senso comum; podemos cobrir o senso comum com uma capa de retórica sociológica, mas ele continua lá. E os seus efeitos perversos ainda passam a ser mais poderosos, porque vêm camuflados de reflexão científica, sendo mais facilmente assimilados e reproduzidos. Por isso é que eu digo: deixemo-nos de sociologias e voltemo-nos para o senso comum puro e duro. Se dermos graxa às pessoas dizendo o que elas querem ouvir e fazendo-as sentir-se muito inteligentes, é mais fácil a obtenção do nosso objectivo de dominação universal. Por isso, deixemo-nos de coisas e coloquemo-nos sob as luzes da ribalta. "Serafim, Serafim, Sociólogo, aqui estou e na verdade sei que vou ser o que sonhei!"
PS: Aproveito apenas para terminar a minha reflexão com mais algumas citações de autores que acho que são apropriados para este momento: Featherstone, Diana Crane, Ash Amin, Parsons, Malinowski, Carlos Fortuna, Action Man, Doutor Estranho, Green Goblin, Jorge Costa, José Mourinho, Buda, Cão do Super Maxi. Obrigado.