terça-feira, agosto 28, 2007

Mofas anónimas... ou o sexo dos anjos?


Devo começar por dizer que o BLOG está neste momento, de facto, deserto; e assumo parte da culpa, como co-responsável do ermo.
Contudo, também me confesso perplexo em relação a alguns anónimos e mordazes comentários.
Faço parte do GES-FLUP desde o início do mesmo. Recordo-me do fervilhar de energias e ideias aquando da sua génese. De como começou; de quem começou; dos debates; de alguma marcha lenta e até mesmo estagnação; quiçá retrocessos... mas também de recuperações e galvanizações.
Foi algo com que me identifiquei (ainda me identifico – com as ideias de base, obviamente) bastante porquanto naquela altura estoico (e pueril?) era o meu sentimento de querer mudar o mundo (ainda quero actualmente), e qualquer iniciativa nesse sentido era sempre, por mim, vorazmente considerada.
Ora bem:
Que eu saiba, o GES-FLUP foi criado como uma forma de colmatar a insatisfação e inconformidade de alguns, a quem as ideias debatidas nas aulas e no bar da faculdade eram, por isso, dispersas e insuficientes, e apenas os tornavam mais irrequietos intelectualmente. Era importante promover e potenciar a troca de (tantas vezes tão diferentes e até inconciliáveis) ideias; criar e participar e organizar diversificadas iniciativas; criar uma maior proximidade entre próprios alunos, e entre estes e a instituição; verter recensões, análises e trabalhos em revista; enfim, seja por coesão ou distinção (ou ambas), das interacções à interdependência de funções na prossecução de objectivos comuns, através desse conjunto de elementos que participam na identificação dos seus respectivos membros, o Grupo sobreveio.
Como se sabe, os “demiurgos” da respectiva materialização da ideia, muitos, já terminaram os seus respectivos cursos, e a naturalíssima diáspora traduz o que todos sabemos ser o “fim de um ciclo”; ou melhor: mais uma passagem do “cenário” para a “plateia”, no que ao “leme” concerne.
Quem se lhes seguiu, no intuito de manter vivo um projecto e de o melhorar, fez um MAGNÍFICO trabalho. E se ideias divergentes e equívocos existiram - e existiram(!); e ainda bem(!!) -, muito esforço, dedicação, sacrifício e respeito houveram, para que tudo corresse o melhor possível.
No entanto, e naturalmente, o projecto tem que ser legado a novas listas concorrentes; novos alunos, com disposição e predisposição para o manter, ou aumentar, ou modificar, ou até, eventualmente, o extinguir e iniciar outro – ou não.

À guisa de réplica ao mais recente remoque, vamos por partes:

O presente Blog surgiu com uma das direcções mais dinâmicas que conheci ao GES-FLUP, e nele se podem encontrar os mais diversos assuntos, temas, noticias, opiniões, comentários, trabalhos, análises, etc.., de pessoas com provas dadas e méritos reconhecidos (alunos e professores). Mesmo que o actual estado da arte se paute pela estagnação, não me parece que a penúria de posts tenha correspondência directa alguma com elementos constitutivos do ridículo, e que tal seja ainda, e por isso, característica do próprio Grupo de Estudantes de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
No que toca às considerações acerca do pseudô-grupo, será que foram equacionadas todas as categorias sociais, situacionais, individuais? Carácter abstracto e simbólico? Ou apenas a dimensão quantitativa interactiva – e, aparentemente, refém da sobejamente conhecida falácia da composição?
Tenho conhecimento de que as Noites de Sociologia se têm realizado, com temas diversos que, “naturalmente” agradam mais a uns que a outros.
Variadas iniciactivas e actividades se realizaram, com convidados, e em que o número de participantes se reduzia aos organizadores do evento e respectivos convidados – e talvez alguém que se tenha enganado na sala. E não foi por falta de divulgação!
Confesso desconhecer o valor da revista FHM, mas não será demais salientar que o GES-FLUP tem um orçamento – talvez inferior ao da FHM – e não tem receitas de publicidade.
Quanto à criatividade e atractividade, ambas são complexas para breve dissecação neste espaço, contudo, não deixam de ser «estratificadas»
[1]. Aceitam-se sugestões!
«Aluno comum»? Quem é o aluno comum? Qual o seu perfil?
As actividades de lazer sucederam-se: piqueniques no parque, etc...
E se em causa está a qualidade seja do que fôr – ou até mesmo o sexo dos anjos - , talvez seja conveniente ter presente que amiúde, quer Sociólogos quer Estudantes de Sociologia, são tidos constantemente «como pessoas que constatam o que é óbvio numa linguagem incompreensível e abstracta, a quem falta toda a noção de tempo e de lugar, que comprimem os indivíduos em categorias rígidas e que ainda para cúmulo acreditam que estas actividades são científicas»
[2] . É como refere J. Piaget, « a Sociologia tem o triste privilégio de tratar de matérias de que todos se julgam competentes»[3]; e isto em grande parte porque «as mais das vezes continuam a reproduzir-se as prenoções ideológicas»[4]. Teremos que ser mais árduos no rigor de análise e crítica.
Mas... não é isto a Sociologia? Uma disciplina que tende a subverter? E subverte pois «ela (Sociologia) questiona as premissas que desenvolvemos sobre nós mesmos, como indivíduos e acerca dos contextos sociais mais amplos nos quais vivemos»
[5].
Toda a pro-actividade é bem vinda, seja ou não controversa. Contudo, parece-me que fará mais sentido perspectivas construtivas, com horizontes de flexibilidade plenos de alternativas.
Não esperem que se lembrem de vocês; implementem-se!




[1] Waldenyr Caldas, Uma Utopia do Gosto, São Paulo, Editora Brasiliense, 1988.
[2] Peter Burke, Sociologia e História, Porto, Edições Afrontamento, 1980, pág. 10.
[3] J. Piaget cit. in Boaventura de Sousa santos, Introdução a Uma Ciência Pós-Moderna, Porto, Edições Afrontamento, 1995, pág.33.
[4] João Ferreira de Almeida; José Madureira Pinto, A Investigação nas Ciências Sociais, Lisboa, 5ª Edição, Editorial Presença, 1995, pág. 37.
[5] Anthony Giddens, Em Defesa da Sociologia: Ensaios, interpretações e tréplicas, Sao Paulo, Editora UNESP, 2000, pág. 11.