Mofas anónimas... ou o sexo dos anjos?
Devo começar por dizer que o BLOG está neste momento, de facto, deserto; e assumo parte da culpa, como co-responsável do ermo.
Contudo, também me confesso perplexo em relação a alguns anónimos e mordazes comentários.
Faço parte do GES-FLUP desde o início do mesmo. Recordo-me do fervilhar de energias e ideias aquando da sua génese. De como começou; de quem começou; dos debates; de alguma marcha lenta e até mesmo estagnação; quiçá retrocessos... mas também de recuperações e galvanizações.
Foi algo com que me identifiquei (ainda me identifico – com as ideias de base, obviamente) bastante porquanto naquela altura estoico (e pueril?) era o meu sentimento de querer mudar o mundo (ainda quero actualmente), e qualquer iniciativa nesse sentido era sempre, por mim, vorazmente considerada.
Ora bem:
Que eu saiba, o GES-FLUP foi criado como uma forma de colmatar a insatisfação e inconformidade de alguns, a quem as ideias debatidas nas aulas e no bar da faculdade eram, por isso, dispersas e insuficientes, e apenas os tornavam mais irrequietos intelectualmente. Era importante promover e potenciar a troca de (tantas vezes tão diferentes e até inconciliáveis) ideias; criar e participar e organizar diversificadas iniciativas; criar uma maior proximidade entre próprios alunos, e entre estes e a instituição; verter recensões, análises e trabalhos em revista; enfim, seja por coesão ou distinção (ou ambas), das interacções à interdependência de funções na prossecução de objectivos comuns, através desse conjunto de elementos que participam na identificação dos seus respectivos membros, o Grupo sobreveio.
Como se sabe, os “demiurgos” da respectiva materialização da ideia, muitos, já terminaram os seus respectivos cursos, e a naturalíssima diáspora traduz o que todos sabemos ser o “fim de um ciclo”; ou melhor: mais uma passagem do “cenário” para a “plateia”, no que ao “leme” concerne.
Quem se lhes seguiu, no intuito de manter vivo um projecto e de o melhorar, fez um MAGNÍFICO trabalho. E se ideias divergentes e equívocos existiram - e existiram(!); e ainda bem(!!) -, muito esforço, dedicação, sacrifício e respeito houveram, para que tudo corresse o melhor possível.
No entanto, e naturalmente, o projecto tem que ser legado a novas listas concorrentes; novos alunos, com disposição e predisposição para o manter, ou aumentar, ou modificar, ou até, eventualmente, o extinguir e iniciar outro – ou não.
À guisa de réplica ao mais recente remoque, vamos por partes:
O presente Blog surgiu com uma das direcções mais dinâmicas que conheci ao GES-FLUP, e nele se podem encontrar os mais diversos assuntos, temas, noticias, opiniões, comentários, trabalhos, análises, etc.., de pessoas com provas dadas e méritos reconhecidos (alunos e professores). Mesmo que o actual estado da arte se paute pela estagnação, não me parece que a penúria de posts tenha correspondência directa alguma com elementos constitutivos do ridículo, e que tal seja ainda, e por isso, característica do próprio Grupo de Estudantes de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
No que toca às considerações acerca do pseudô-grupo, será que foram equacionadas todas as categorias sociais, situacionais, individuais? Carácter abstracto e simbólico? Ou apenas a dimensão quantitativa interactiva – e, aparentemente, refém da sobejamente conhecida falácia da composição?
Tenho conhecimento de que as Noites de Sociologia se têm realizado, com temas diversos que, “naturalmente” agradam mais a uns que a outros.
Variadas iniciactivas e actividades se realizaram, com convidados, e em que o número de participantes se reduzia aos organizadores do evento e respectivos convidados – e talvez alguém que se tenha enganado na sala. E não foi por falta de divulgação!
Confesso desconhecer o valor da revista FHM, mas não será demais salientar que o GES-FLUP tem um orçamento – talvez inferior ao da FHM – e não tem receitas de publicidade.
Quanto à criatividade e atractividade, ambas são complexas para breve dissecação neste espaço, contudo, não deixam de ser «estratificadas»[1]. Aceitam-se sugestões!
«Aluno comum»? Quem é o aluno comum? Qual o seu perfil?
As actividades de lazer sucederam-se: piqueniques no parque, etc...
E se em causa está a qualidade seja do que fôr – ou até mesmo o sexo dos anjos - , talvez seja conveniente ter presente que amiúde, quer Sociólogos quer Estudantes de Sociologia, são tidos constantemente «como pessoas que constatam o que é óbvio numa linguagem incompreensível e abstracta, a quem falta toda a noção de tempo e de lugar, que comprimem os indivíduos em categorias rígidas e que ainda para cúmulo acreditam que estas actividades são científicas»[2] . É como refere J. Piaget, « a Sociologia tem o triste privilégio de tratar de matérias de que todos se julgam competentes»[3]; e isto em grande parte porque «as mais das vezes continuam a reproduzir-se as prenoções ideológicas»[4]. Teremos que ser mais árduos no rigor de análise e crítica.
Mas... não é isto a Sociologia? Uma disciplina que tende a subverter? E subverte pois «ela (Sociologia) questiona as premissas que desenvolvemos sobre nós mesmos, como indivíduos e acerca dos contextos sociais mais amplos nos quais vivemos»[5].
Toda a pro-actividade é bem vinda, seja ou não controversa. Contudo, parece-me que fará mais sentido perspectivas construtivas, com horizontes de flexibilidade plenos de alternativas.
Não esperem que se lembrem de vocês; implementem-se!
[1] Waldenyr Caldas, Uma Utopia do Gosto, São Paulo, Editora Brasiliense, 1988.
[2] Peter Burke, Sociologia e História, Porto, Edições Afrontamento, 1980, pág. 10.
[3] J. Piaget cit. in Boaventura de Sousa santos, Introdução a Uma Ciência Pós-Moderna, Porto, Edições Afrontamento, 1995, pág.33.
[4] João Ferreira de Almeida; José Madureira Pinto, A Investigação nas Ciências Sociais, Lisboa, 5ª Edição, Editorial Presença, 1995, pág. 37.
[5] Anthony Giddens, Em Defesa da Sociologia: Ensaios, interpretações e tréplicas, Sao Paulo, Editora UNESP, 2000, pág. 11.
8 Comments:
Parabéns pela proposta do blog. Estão convidados para visitar meu Mundo em Movimentos. Um abraço
Levanto a hipotese que tal interregno, seja porventura vítima de externalidades que desviam o foco dos actuais estudantes de sociologia para outras realidades mais prementes. Desde a confusão instalada por força do processo de Bolonha, ao facto (e falo apenas com conhecimento de causa de uma realidade que já não sei se existe) dos principais dinamizadores que sucederam à primeira equipa do GES verem-se a braços com imposições que o ultimo ano de curso exige. Lembro-me, sem saudosismos bacocos, que o Curso de sociologia pautava-se pela pró-actividade em relação ao todo da faculdade. Apesar de sermos um dos cursos mais pequenos e na altura um pouco ostracizados pelo resto da comunidade académica, sempre participamos activamente nas RGA's, manifestações em defesa dos interesses de todos os alunos da Flup, em numero porporcionalmente superior a dimensão dos restantes cursos. Não existem elites no GES, o campo esta aberto, aceitam-se criticas e acima de tudo sangue novo. Terminei o curso há dois anos, tal como muitos colegas inseri-me profissionalmente, mas sempre acarinhei este projecto, é com imensa pena que veria este projecto morrer.
Antes de sociólogos, somos todos seres humanos, temos os nossos preconceitos inculcados... julgar colegas por se envolverem no GES sem nunca levantar o braço e dizer presente vale tanto como discutir o sexo dos anjos. Dinamizem, não se prendam a velhos padrões, fomos uma geração que passou,a tela agora é vossa para acrescentar o que vos aprouver!
A todos os estudantes de sociologia um bem haja e as maiores felicidades no vosso percurso académico.
Magno Bettencourt
aluno entre 2000-2005
Concordo com a análise ao estado do blogue. No que puder, farei por ajudar a dar um empurrão!
Um abraço
Concordo com a análise ao estado do blogue. No que puder, farei por ajudar a dar um empurrão!
Um abraço
ola... gostaria de dar o meu contribuito para recuperar o ges.. penso que era proveitoso para todos..
o meu contacto é mabye21@hotmail.com
Não sei se alguém vai ler isto, mas vale a pena tentar:
O GES podia convocar uma reunião com os alunos de sociologia como fazia antigamente e aí decidir o seu futuro. E o blog, poderia ser novamente divulgado e começar a retomar a sua actividade... Está na altura de ressuscitar o GES antes que ele se torne completamente desconhecido pelos alunos de sociologia e pela Flup. Aliás como aluno do primeiro ano pouco me foi dito sobre o GES, se não fosse a breve referência no seminário de recepção nem sabia da existência do mesmo...
Eu também estou disposto a ajudar no que for preciso, contactem-me através de: flavio . verdier @ gmail . com
Olá Flávio!!
Porque não convocas TU uma reunião?
Porque não propões TU uma lista e um programa?
Não se trata de exprobraria alguma o que te pergunto, trata-se, isso sim, de incentivo!! ;)
Eu não me encontro em Portugal contudo, podemos sempre comunicar - não vivêssemos nós numa «high time-space distantiation society» [Giddens] (atenção que este conceito de Giddens não está isento de críticas...) - e trocar ideias!
Aguardo que haja determinação para tal desse lado e eu ajudarei na medida dos possíveis!
Melhores cumprimentos,
thomaSMann
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