terça-feira, dezembro 14, 2004

Quinta das celebridades sociológicas

Malditos jornalistas do JN, sempre a oferecerem aos sociólogos e investigadores da FLUP a oportunidade de mandarem a sua posta sobre tudo e mais alguma coisa, desde a actualidade política aos 4-1 do Belenenses ao Benfica, passando pela discussão sobre se o tremoço é ou não um marisco e, como não podia deixar de ser, pela análise desse evento sociológico ímpar que é a Quinta das Celebridades.
É assim mesmo! Há que afirmar a Sociologia que se faz nesta casa, como a Sociologia atenta, esclarecida e sempre em cima dos acontecimentos que ela é! Quem sabe, poderemos ter um dia destes uma Quinta só com celebridades sociológicas... Ah, que belo dia em que a Sociologia receberá finalmente os créditos que merece! Muita audiência ganhará ainda a TVI à custa desta fundamental disciplina. O JN é que sabe... já se adiantou e está na frente das estratégias ganhadoras de venda de jornais! Um sociólogo por dia, dá opinião e alegria!
Viva a Sociologia! Por tudo e por nada!

3 Comments:

At quinta-feira, dezembro 16, 2004 2:43:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

pois é... deviam recrutar já a cabeleireira goreti para o departamento, pelos vistos seguem os dois a mesma escola de pensamento...

 
At quinta-feira, dezembro 23, 2004 2:16:00 da manhã, Blogger MB said...

Minha gente, eu até compreendo o homem. provavelmente tava ele no salão da senhora dona Goreti a cortar o cabelo e na cadeira ao lado tava oo seu amigo jornalista... toda a gente sabe como é que são as conversas de cabeleireiro, agarra-se na Nova Gente...e arranja-se logo assunto. Ora, tudo o que e revista de cabeleireiro que se preze, ´dedica pelo menos metade das suas paginas à quinta das nulidades... conversa puxa conversa o sr Dr Eduardo afirma que o Frota é actor... Claro que a Goreti (entre uma tesourada e outra) mete a sua posta, corroborando a afirmação de tão ilustre cliente (não é todos os dias que se corta o cabelo ao sr presidente da junta...) No dia seguinte, o tal amigo jornalista, tem que apresentar serviço, então lembra-se de escrever sobre o tal programa aproveitando o depoimento fortuito do seu colega de salão de cabeleireiro. Como toda a gente sabe, não há nada como afirmar que foi um sociólogo que disse para dar logo credibilidade a uma notícia...
E VIVA A SOCIOLOGIA POR TUDO E POR NADA!!!!!

 
At terça-feira, setembro 06, 2005 1:14:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Atento ao debate aqui presente sobre a adequação discursiva aos contextos e aos veículos de informação no campo sociológico, sinto-me motivado a participar.
Num momento em que a Sociologia nem sempre tem merecido a auscultação devida sobre muitos problemas sociais (substituída por discursos mais “populares” e “basistas”), urge encontrar as razões de tal “desprezo” algumas vezes gritante. Embora a tendência pareça inverter-se, a verdade é que nem sempre é pacífico (nos veículos de informação não especializados) um certo modelo de hibridez cognitiva, assente numa conceptualização elaborada que parece pouco preocupada em se fazer compreender quando se encontra perante veículos “generalistas” e “light”. De facto, a densidade conceptual de uma análise não se revela numa coluna generalista de jornal ou em citações avulsas, a não ser que haja necessidade de afirmar o que mais ninguém vê. Há outros locais e outros meios para o efeito.
Não deixa, no entanto, de ser um debate interessante: “Vale a pena legitimar “análises” sociais com um vocabulário menos denso teoricamente, tendo em conta o público-alvo, pretensamente menos munido?”. Eu até acho que não e tenho todas as reservas quanto à utilidade sociológica de tais análises. Mas, como também acho que a alternativa é muitas vezes pior… Valerá a pena assumir, ao invés, uma descolagem “provisória” e contextualizada das conceptualizações híbridas e do fechamento do campo, que muitas vezes aparenta esconder “elitismos ideológicos”? Penso que Braudel explica isto melhor do que eu.
De facto, em cada momento há um dilema: quando se aprofunda o discurso e a análise menos entendem o raciocínio (quando o há…); quando se aligeira a linguagem em função das características sociais do público-alvo (não só do jornal, mas do tema), desiludem-se as elites. Eu também prefiro a primeira. Mas a tentação de não ser um maçador enciclopedista a falar aos “peixinhos” também não é desprezível.
De facto, é híbrido o meio-caminho entre a “humildade intelectual” e o “pretensiosismo conceptual” que, muitas vezes, tentando fechar o campo, disfarça fragilidades empíricas e incapacidade compreensiva. Quem não se faz entender, dificilmente se entende a si próprio. E quem não ousa adequar um pouco o seu discurso ao público-alvo, promove uns bacocos “etnocentrismos cientifistas”. Mais uma vez, acho que o Braudel e o Popper explicariam isto melhor do que eu. Aliás, quem lê exames, sabe bem que, em muitos casos, os reis andam nus.
Muitas ciências sociais têm resistido pouco à tentação de se tornarem “mediáticas”. É mau. Mas também me parece que quando resistem, tendem a exagerar no fechamento em “arquipélagos” do saber. Repito: não ouso pensar em encontrar numa coluna de jornal (com citações avulsas e muitas vezes “ajustadas” à estruturação da peça jornalística) o âmago da análise sociológica. Essa pretensão poderia esbarrar com o raciocínio indecifrável que, como tal, se subverteria.
É um debate interessante, ainda mais “dentro” do campo sociológico. Eu tenho suficiente motivação epistemológica e ontológica para me disponibilizar para participar numa tal sessão de debate, repito, aberto ao campo e onde estas questões sejam problematizadas (sim, problematizadas, porque não ouso pensar que alguém já tenha descoberto as verdades absolutas…). De desafios também se faz o processo de discussão sobre a ciência.
Os meus cumprimentos (ou será melhor dizer: as minhas manifestações socialmente aceites de uma relação social assente no respeito pelas regras sociais vigentes, traduzidas em símbolos e práticas com conotações e denotações dominantes!!). Seja como for, os meus cumprimentos.
Eduardo Rodrigues

 

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